quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fogo baixo


Eu já te disse da espera?
É como pescar traíra:
arma-se a vara na véspera.
Não se tem a consciência
de que o que vem é o que
resolvemos chamar de futuro.
Mas o quão irrelevante
é para o relógio astral
um dia que segue outro.
O importante é o prazer da espera,
a transformação do tempo
na demora que relativiza a vida.
A espera permite fixar o momento;
sobra tempo para se enfeitar com o luar.
O fim passa a ser justificável,
E, quando ele chega,
eis que nos encontra já entranhados
com o cheiro da partida.

(Verdes versos)

9 comentários:

Gi disse...

vai um tempo e outro tempo virá

e no espaço que medeia entre um e outro a que decidimos chamar de tempo

aproveitemos o tempo sem pensar muito o que o outro tempo trará

viver pensando que se vai morrer
só faz com que se morra sem ter vivido.

Um beijo Jorge, gosto muito da forma como verbaliza os seus sentimentos, os sentidos, a vida.

Dauri Batisti disse...

Adorei essa imagem: pescar traíra para falar do futuro. Totalmente original.

Oliver Pickwick disse...

Reinventaste o dia-a-dia, prezado Jorge, desconstruindo a angústia e a ansiedade típicas da espera. Como no antigo adágio chinês, seus versos mostram a interfase como propícia à oportunidades.
Abraços!

Maria disse...

"a espera permite fixar o momento".
É assim, e passa rápido, o tempo.
Viver sempre e no intervalo, entre a chegada e a partida...

Beijo

isabel mendes ferreira disse...

fogo.
alto.altíssimo.


o que desatas.


tão B E M!!!!


______________

beijo.

Jacinta Dantas disse...

Penso na espera como algo que demarca o ser e o vir a ser.
E que bom viver esse intervalo com poesia.
Uma abraço
Jacinta

ivone disse...

o esperar
a espera mágica de uma fantástica vinda
ou de uma fabulosa ida...

Art'palavra disse...

caro Jorge: você é guerreiro, pelo menos o teu primeiro nome sugere isso.Você é poeta porque sabe muito bem lidar com a força que tem a palavra. Vou aos poucos lendo o que você publica no seu blog que já faz parte das coisas que eu gosto. Tão logo possível o incluirei no meu blog. Vida longa pra sua poesia. Reserve para mim um exemplar do seu primeiro livro. Vi e gostei muito da sua coluna - Parada obrigatória porque lá está uma criatura que eu admiro muito: o poeta Antonio Cicero. Em tempo, obrigada por seu comentario no meu blog. Apareça sempre.
Grande abraço e paz em Nhande Rú (Deus em guarani). Graça Graúna

Mésmero disse...

Boa.

E que foto, hein!!