sábado, 25 de maio de 2013

Poema - Tradução do poeta espanhol Pedro Sevylla de Juana


Le papillon blessé

                                                     Tradução: Pedro Sevylla

En la presente niebla
de las simetrías.
Cuando se sospechan punzantes
los pasos que reverberan certezas,
parece un capricho,
esa hilera de insignificancias
(la huella de la mariposa).

Por eso, el atrevido silencio
de ese cuerpo lánguido del hombre
ante nosotros
(el retorno a la condición humana es el recurso último
al que se entrega la mariposa en los momentos de
agonía).

Todos esos
que ocultan el rostro
en su  lecho
no se dan cuenta del fraude.

(En realidad,
el poeta no vive sin cuerpo.)

Son mariposas que permanecen
atrapadas en el color indefinido del tiempo.

Siempre quedará la cadencia de las alas,
deleitando con sus gestos
a quien, en lo absurdo de la vida
se sabe
                                              solo.


Le papillon blessé
  
Na atual névoa
das simetrías.
Quando se veem pungentes
os pasos que reverberan certezas,
parece um capricho,
essa fieira de insignificancias
(o rastro da borboleta)

Por isso, o silêncio resoluto
desse corpo flácido do homem
diante de nós
(o retorno à condição humana é o recurso último
ao qual se entrega a borboleta em momento de
agonia).

Esses tantos
que se debruçam
sobre seu  leito
não se apercebem da fraude.

(Na verdade,
o poeta não carece de existencia corpórea.)

São bobrboletas que persistem
suspensas na cor indistinta  do tempo.

Sempre restará o marolar das asas,
cortejando com seus signos
aquele que, no absurdo da vida
se aperceber
                                              só.



Jorge Elias Neto


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Gustavo Felicíssimo - Poemas


REGRESSANTE

 Deixei-me ser o que não se revela,
senão na intensidade da saudade.
Deixei-me ser o que nunca veio,
o que nunca se encontrou
e nunca esteve perdido.
Deixei-me ser o que não volta mais,
senão no tempo que se encontra
porque não se procura.
Deixei-me ser, uma vez mais,
a existência sobre a existência repousada.
E já que em mim o que não é não ousa,
deixei-me ser a voz consentida,
erguida do nada, e que regressa à vida.

CONFISSÃO

            A minha alegria é não possuir nada
                        Carlos Anísio Melhor
  
Trago de longe uma calça jeans,
uma camiseta desbotada
e esse velho chapéu que já não serve pra nada.
Trago também um olhar disforme
para as coisas do mundo,
mas não tenho a intenção de ser profundo.
Se meu canto perpassa o que sou
é porque abraço o que tenho e preciso:
o silvo de algum pássaro distante
e certas elegias sobrepondo-se ao tempo.
Por isso essa imagem desbotada,
essa espada na minha cabeça
apesar da claridade na janela.
A despeito do meu olhar extravagante
a minha alegria é não possuir nada.
Sou o espelho da minha ilusão.

CRÔNICA DOS MEUS 40 ANOS

 Que estou ficando velho,
foi o que disseram
alguns amigos
agora que cheguei
aos quarenta anos.
Isso foi ontem
e não me desanima.
Hoje fitei o sorriso
da minha filha
nos braços de minha mãe
e percebi
que a vida não é uma ilha.
Hoje aprendi
que o avesso da minha voz
são esses versos
singrados
por múltiplas caravelas.
Ouve,
deles
vaza
o que à vida falta.


Gustavo Felicíssimo é escritor diversas vezes premiado no Brasil e traduzido para diversos idiomas. É, também, editor da Mondrongo Livros. Tem publicado os livros: Diálogos: Panorama da nova poesia grapiúna, Silêncios, Outros Silêncios, Procura & Outros Poemas, Blues Para Marília.