terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Marcos Tavares

RE / TALHOS


As meninas choravam e choravam
e eu punha colírio nos olhos.
Há muito perdi meu coração
entre um amor e uma rua.

O relógio está quebrado.
O emprego, difícil.

Ainda acabo num hospício,
ou em Faculdade de Letras.

O mundo não é só palavra.
O mundo é redondo rodando.
E os homens continuam quadrados.

O pai queria-me engenheiro,
depois vieram outros filhos,
e fiquei sendo o mais velho.

Não agüento mais essa morte.
Tenho mesmo é vontade de viver.
Um dia hei de ser um homem.




( Junho / 1979 )








POLUIÇÃO




CO      CO       CO      CO
           tosse            tosse            tosse
CO      CO       CO      CO
           tosse            tosse            tosse
CO      CO       CO      CO
           tosse            tosse            tosse
CO      CO       CO      CO


tosse CO
tosse CO
tosse CO
tóxico
monóxido
carbônico


ó
   t
bi   o


MARCOS TAVARES ( 16-01-1957, Vitória-ES) é autor de contos ( “ No Escuro, Armados ”, Ed. FCAA / Anima, 1987 ) e de poemas ( GEMAGEM, Ed. Flor & Cultura, 2005 ). Integrou o Grupo LETRA, que editava revista homônima. Coautor de livro (“ Uma, Duas, Três Histórias “ – UFES, 1989 ) considerado “ altamente recomendável “ pela FNLIJ. Publicou textos em : jornais do ES, revista IMÃ, coletâneas ( Poetas do ES, 34 Poetas Daqui Mesmo , Contos Capixabas , Letras Capixabas em Arte , entre outras ). Eleito em 2011, ocupa a Cátedra n º 15 da Academia Espírito-santense de Letras (AEL).

sábado, 10 de dezembro de 2011

REFLEXÃO

As verdades se camuflam
e não nos chegam nos abraços.

Jorge Elias Neto

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fernando Achiamé

Alívio


É complicado ser solteirão
e encher um baú com poemas.
Cercado de mulher e filhos
é complicado fazer versos.
(Tudo implicado, mestre e irmão,
sempre serei neófito no mundo
esotérico dos teus poemas,
onde a morte não existe).


Ocultista, tudo revelaste, tudo,
enquanto nós, pobre mortais,
por dentro nos destruímos.
Só tu criaste outros eus
para te somares em mais versos,
e quieto te deixarem
a contemplar uma tabacaria,
beber em todas as tascas.
(Tua dor é nossa dor,
nossa alegria é tua também:
para sempre integras o futuro,
e o porquê somente tu sabes).


Sendo de ti meio homônimo,
ai quem me dera ser dos teus
heterônimos o mais olvidado.
(Em oblívio nos mudaste, e hoje
somos outros nomes teus,
pois te vejo em nós dissolvido,
para nosso recíproco alívio).

FERNANDO Antônio de Moraes ACHIAMÉ, Colatina (ES), 1950. Seguiu carreira na administração pública estadual e lecionou na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Historiador, pesquisador-associado do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo – NEPLES/UFES e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Editou e organizou diversas obras sobre história capixaba. Tem artigos e poemas publicados em periódicos de Vitória e em diversos sites, a exemplo de www.tertuliacapixaba.com.br. Autor do Guia Preliminar do Arquivo Público Estadual (1981), Catálogo dos Bens Culturais Tombados no Estado do Espírito Santo (1991, em coautoria), O Espírito Santo na Era Vargas (1930-1937): elites políticas e reformismo autoritário (FGV, 2010), Esquadro e Compasso em Vitória: Álbum da Loja Maçônica União e Progresso (IHGES, 2010) e dos livros de poemas A Obra Incerta (Flor&Cultura, 2000) e Livro Novíssimo (Flor&Cultura, 2011).