quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Frango com farofa


No fim de semana
estendo o pano xadrez
no céu de pólvora;

arregalo o olho
para entrar o cisco;

uso a cara de bobo
e ignoro o vício;

O pano xadrez – início;
o cisco no olho – chuvisco;
na cara de bobo – o riso.

(O estalo da palavra!)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rubem Braga


Rubem Braga morreu às 11h30 da noite de 19 de dezembro de 1990. Estava absolutamente só em seu quarto – como exigira dos amigos e dos médicos que o atenderam. Suicídio? Eutanásia? “Suicídio assistido”, é o eufemismo mais utilizado, nesses casos.
Deixou-nos uma obra maravilhosa, uma prosa poética única, intimista, na qual tratava das pequenas coisas que nos circundam, as quais, cada vez mais, nos passam despercebidas. Uma homenagem ao nosso cronista maior.


Quintana, em seu poema-homenagem à Tolstoi escreveu que “ a morte é uma locomotiva que chega sempre pontualmente na hora incerta”...
Assim não o quis Rubem Braga.

Segue abaixo um trecho de uma de suas crônicas, citado na recente biografia cuidadosamente preparada pelo também capixaba Marco Antônio Carvalho.


Hoje venta noroeste, amanhã é lua cheia. Depois virão outras luas e outros ventos, mas isso também é fútil. Pois um dia as luas podem girar no céu e os ventos rodarão na terra com meiguice ou fúria, e isso não te importará, como, também, tudo o que foi. Por que, então, te afliges, agora? Que a brisa do mar invente espumas, e depois venham as chuvas frias, o sol e depois no céu limpo suba, imensa, a lua – não penses que isto tenha nada a ver contigo. Não existes. Nada tem a ver contigo.

(do livro – Rubem Braga – Um cigano fazendeiro do ar – Ed. Globo)