segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Pressagio


Chegará o dia em que de tanta querença, o mar chegará às praias, às portas, às casas... E aqueles que tanto por ele brigaram, não terão êxito em desfazerem-se de tão insistente amante!

(O estalo da palavra)


Kioto


A redoma estilhaçada
faz frágil o ser antropocêntrico.

A névoa, agora, é cinza de morte.
A hora se apresenta túrgida de desassossego.

O suor que nasce e evapora do febril pensante
é quente, como no Holocausto de ontem.

A vidraça,
o vapor,
a névoa,
sobretudo o calor,
fundem o metal encantado de Wall Street,
em pleno Sol de meio-dia.

É o céu um espelho partido,
forjado por todos os alquimistas que acenderam o fogo da ambição.

O girassol torporoso,
refugia-se entre as pétalas
que não tombaram
ao orvalho ácido do alvorecer.
Ele é incapaz de encarar
a verdade deste Sol.

O que dizer dos seres ignotos
que se admiram nos espelhos das nuvens...

Onde está a cuspideira,
para que eu possa comemorar a soberba humana?

Homem,
mosaico de fluidos,
senhor dos pensamentos dúbios e incoerentes,
não tardes esperando que tua racionalidade te dê o norte.
Ouve os ociosos que, perdidos entre estrelas,
antevêem o simples fim.

A rosa oriental
que nasceu aos pés do cogumelo de poeira,
já era rubra, ao brotar.
Hoje,
ganhou um toque tropical,
está mais encarnada,
herança diária
dos inocentes exangues,
que teimam em nascer,
à margem do mundo globalizado.

Os seres débeis já se esvaem
na fumaça que escreve números
em todo o céu.
E o principal protagonista
não lê os escritos das ondas,
que, insistentes,
desistiram de lavar as areias
e passaram a deixar os seus escritos,
nas memórias de uma geração

(Verdes versos)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Circo


Eis aqui minhas duas mãos.
Queres que eu te empurre?

Passa por cima
do ar parado
e repisado pela platéia.

Ignora a apnéia coletiva.

Desaloja o quebranto desses olhos.

É falsa a força que te sustenta.
Essa verdade não resistiria ao primeiro espasmo
da tua carne.

A poeira é a pele da lona
(a tua pele),
despida por todos após o último aplauso.

Vai,
abandona os holofotes!

Vai!
este é o momento.

Não se avexe,
que as bestas despidas
são inofensivas.




(O estalo da palavra)