sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CONVITE - COLETÂNEA NA PAISAGEM DOMÉSTICA - PORTAL CRONÓPIOS

Prezados leitores:

Convido para leitura de uma coletânea de meus poemas entitulada Na paisagem doméstica
no Portal Literário Cronópios. http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4845
Aproveito para desejar à todos um fim de ano de descanso e harmonia.
Muita saúde, felicidade e poesia em 2011.
Muito amor e atitude ética.
Beijo para todos.

Jorge Elias Neto

domingo, 12 de dezembro de 2010

Nydia Bonetti

havana



na rota dos meus sonhos
ainda te encontro
con sus guitarras y cantos
sus poemas de arcilla y piedra
minerales y hojas
ojos de tabaco y doçura
manos de esperanza
fuegos de ternura
habana
(reconheço-me ilha)
cenizas de lo que soñé



setembros


o tempo
corrói a vida pelas bordas
insaciável
já devorou
mais da metade do que sou
[...ou do que fui?
e nos setembros
ele arranca pedaços
inteiros



Nydia Bonetti, 1958, do interior de São Paulo, poeta e engenheira civil, tem poemas publicados na Revista ZUNAI e outras mídias eletrônicas. Bloga no LONGITUDES, trabalha atualmente no projeto do seu primeiro livro, ainda sem título definitivo.
blog: http://nydiabonetti.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

FERNANDO PESSOA


A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada feliz - tudo isto cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para ti, em amá-los. Veste teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Maio nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia morra entre mirtos, teu tédio cesse entre tamarindos e o som da água acompanhe tudo isto como um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua, a máguo estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
Meu destino é a decadência.
Meu domínio foi outrora em vales fundos. O som de águas que nunca sentiram sangue rega o ouvido dos meus sonhos. O copado das árvores que esquece a vida era verde sempre nos meus esquecimentos. A lua era fluida como água entre pedras. O amor nunca veio àquele vale e por isso tudo ali era feliz. Nem sonho, nem amor, nem deuses em templo, passando entre a brisa e a hora una e sem que soubesse saudades das crenças mais bêbadas, mas escusas.


Fernando Pessoa
(Livro do desassossego - Companhia das Letras)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Massa


Para uns,
ruínas – degredo.
Para outros,
planície Divina,
colinas de nuvens.
Eu,
banido pela consciência,
permaneço – altivo.
Massa amorfa
dentre os dejetos
do Universo.

 
 
Jorge Elias Neto