sexta-feira, 30 de outubro de 2009

HOMENAGEM AO POETA MIGUEL MARVILLA - CRONÓPIOS


PREZADOS LEITORES,

CONVIDO TODOS A LER A PEQUENA COLETÂNEA QUE PUBLICAMOS NO PORTAL LITERÁRIO CRONÓPIOS EM HOMENAGEM AO POETA MIGUEL MARVILLA.

GRANDE ABRAÇO E BOM FIM DE SEMANA

CRONÓPIOS: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4245


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Moribundo


Foto: Eloísa Pelegrineti - St. Paul - França - 2008


Se te lembrares de mim,
traz-me orquídeas num tubo de ensaio –
dessas que são isoladas, para não se ocupar
da impureza de nossos dias –
e injeta em minha veia.

Coloca um fone em meus ouvidos
que me sussure brisas.

Mostra-me fotos de casa
e conta de nossas sombras .

Se te lembrares de mim,
lê-me a Máquina do Mundo.

Não te prendas aos meus olhos fechados;
na escuridão, recicla-se a luz do entardecer.

No limiar da consciência
o nada-fundo se disfarça em paz.

Se te lembrares de mim,
ignora a falsa ausência de gestos.

Abafa os sons
dos aparelhos que me amparam
com um lindo sorriso.

Se te lembrares de mim,
diz a quem interessa, que os amo.

Se te lembrares de mim,
deixa-me de recordação, seu cheiro.

Depois, sai feliz
e celebra a vida.



Pois logo chegará a morte.
Quem sabe a única esperança...,

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

UM POEMA PARA MIGUEL


Le Papillon blessée

Para Miguel Marvilla


Na atual névoa
das simetrias.
Quando se veem pungentes
os passos que reverberam certezas,
parece um capricho,
essa fieira de insignificâncias
(o rastro da borboleta).

Por isso, o silêncio resoluto
desse corpo flácido do homem
diante de nós.
(O retorno à condição humana é o recurso último
ao qual se entrega a borboleta em momento de agonia.)

Esses tantos
que se debruçam
sobre seu leito
não se apercebem da fraude.

(Na verdade,
o poeta não carece de existência corpórea.)

São borboletas que persistem
suspensas na cor indistinta do tempo.

Sempre restará o marolar das asas,
cortejando com seus signos,
aquele que, no absurdo da vida,
se aperceber
só.




Vitória, 10 de outubro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Miguel Marvilla


Prezados amigos,

Faleceu, no último sábado, aos 50 anos, o poeta e contista Miguel Marvilla.
Miguel é certamente um dos maiores poetas da história do Espírito Santo.
Juntamente com José Augusto Carvalho e Jô Drummond foram meus maiores incentivadores a persistir no caminho da poesia.
Além de poeta e contista, Miguel possuía a editora Flor & Cultura pela qual publiquei meu primeiro livro.
Tenho muito a dizer sobre esse grande poeta. Em decorrência disso, dedicarei as próximas semanas desse blog a apresentar uma pequena coletânea de seus poemas.
Para começar, seguem alguns poemas de seu livro A fuga e o vento, publicado em 1980.
Estou preparando uma coletânea para que todos tenham uma idéia da qualidade dos escritos desse, que para mim, é um poeta que merece um reconhecimento em nível do todo nosso País.

A FUGA E O VENTO

(1980- edição marginal)


Ordem natural das coisas

Murchas
as rosas já não surtem
seus efeitos de rosas

tudo tem seu tempo de florescer
as revoluções
os poemas
as palavras
e as crianças

tudo tem seu tempo de apodrecer


Ofício
Não posso prescindir da janela
é meu ofício pretender a lua


Poema de(s)esperança
deus e o germe
é fato que se multiplicam
criaturas plenas

(hermanas creaturas
Debajo del jardin
Crescen muertas)

e são minha mano izquierda
y mi mão direita
e resto del cuerpo

difusos e opacos
deus e o germe
na obscuridade se multiplicam

pero muertos


Lápide
se há de chover, que chova.
a chuva
lava
a palavra
respaldo do germe.

se há de saber, que haja.
defronte mesmo à parede,
o caos não se repensa.

se há de consentir, que forje.
os mitos
não se permitem
ousar mais: são mitos.

se há de louvar, que duvide.
os pães
e os ladrões
não dormem na mesma mão.

se há de negar, que conheça.
(é preciso aço e membrana.)

se há de fluir, que aconchegue.
(é preciso sangue e nácar.)

se há de haver, que nasça.
excessos
e encéfalos
fazem
a
massa
da
vida.


(se há de morrer, que anoiteça.)






Silêncio
os ratos roem meu corpo
por que ninguém chora (?)

os ratos roem meu corpo

ah meu deus se alguém chorasse
talvez eu soubesse de pronto
que estou vivo

talvez até gritasse


Elegia
pedaço de metafísica
a tua boca é uma emoção
acomodada sobre a geografia dos dentes

gramática e cor
compondo os sintomas do riso

paisagem edificada
sobre
suavitez
a primavera em cabelos
reforça o arco-íris
teus olhos

(policromia é uma falta de escuro
na noite que te comporta)

alva e repleta
tua pele se aperfeiçoa
bela e gentil
para o seio patente
em minhas muitas mãos
que jamais te tocaram

e a noite com seus etéreos
permanece estéril
enquanto teu olhar floresce manhãs

(guardarei meu beijo para o teu conhecimento
e meu corpo para o teu silêncio
que o futuro ainda não foi muito longe)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

TRIGÉSIMA SÉTIMA LEVA DA REVISTA CULTURAL DIVERSOS AFINS


Prezados amigos,

Convido todos a lerem a nova leva da REVISTA CULTURAL DIVERSOS AFINS.
Fui convidado por Fabrício Brandão e Leila Andrade para responder algumas questões sobre minha poesia e minhas percepções do processo criativo.
Mais isso é muito pouco...
A revista, como sempre, reserva-nos o valoroso sabor das descobertas.


- percorrendo a estética intervencionista do artista plástico e fotógrafo Kilian Glasner

- em meio à linguagem contundente das linhas cinéfilas de Celso Serpa

- nas experiências inusitadas presentes nas prosas de Nydia Bonetti, Bruna Mitrano e Larissa Mendes

- pelas profundidades dos versos de Aleph Davis, Fao Carreira, Nilson Galvão, Wilton Cardoso e Marcos Pasche

- através das vias sonoras dos discos de Otto e Filipe Catto


Vale a visita:


http://diversos-afins.blogspot.com

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O que seja


Ser o eco das imperfeições.
A solubilidade do instante.
O entardecer entre nuvens –
quando o sol se dissolve
no piscar das pálpebras.
O inesperado,
o suspeito.
A perda do filho que apenas principiava.
A morte a atrapalhar a risada dos desatentos.

Ser o lamento.
A antevisão do pisotear dos corpos.
Palavras com tessitura de um devaneio.
Ser o meio
com todos desperdícios.

Ser o vício.
O mito extinto.
A bolha de ar na traquéia rompida.
Ser dos anjos, a comida.

Ser a orgia.
Peripécias.
A gudeira na mão do crepúsculo.
O definhamento dos músculos.
A graça das línguas.

Ser a míngua.
Fadiga.
A miragem da felicidade.
O tropeço.
O preço da vida.