segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Miguel Marvilla


Prezados amigos,

Faleceu, no último sábado, aos 50 anos, o poeta e contista Miguel Marvilla.
Miguel é certamente um dos maiores poetas da história do Espírito Santo.
Juntamente com José Augusto Carvalho e Jô Drummond foram meus maiores incentivadores a persistir no caminho da poesia.
Além de poeta e contista, Miguel possuía a editora Flor & Cultura pela qual publiquei meu primeiro livro.
Tenho muito a dizer sobre esse grande poeta. Em decorrência disso, dedicarei as próximas semanas desse blog a apresentar uma pequena coletânea de seus poemas.
Para começar, seguem alguns poemas de seu livro A fuga e o vento, publicado em 1980.
Estou preparando uma coletânea para que todos tenham uma idéia da qualidade dos escritos desse, que para mim, é um poeta que merece um reconhecimento em nível do todo nosso País.

A FUGA E O VENTO

(1980- edição marginal)


Ordem natural das coisas

Murchas
as rosas já não surtem
seus efeitos de rosas

tudo tem seu tempo de florescer
as revoluções
os poemas
as palavras
e as crianças

tudo tem seu tempo de apodrecer


Ofício
Não posso prescindir da janela
é meu ofício pretender a lua


Poema de(s)esperança
deus e o germe
é fato que se multiplicam
criaturas plenas

(hermanas creaturas
Debajo del jardin
Crescen muertas)

e são minha mano izquierda
y mi mão direita
e resto del cuerpo

difusos e opacos
deus e o germe
na obscuridade se multiplicam

pero muertos


Lápide
se há de chover, que chova.
a chuva
lava
a palavra
respaldo do germe.

se há de saber, que haja.
defronte mesmo à parede,
o caos não se repensa.

se há de consentir, que forje.
os mitos
não se permitem
ousar mais: são mitos.

se há de louvar, que duvide.
os pães
e os ladrões
não dormem na mesma mão.

se há de negar, que conheça.
(é preciso aço e membrana.)

se há de fluir, que aconchegue.
(é preciso sangue e nácar.)

se há de haver, que nasça.
excessos
e encéfalos
fazem
a
massa
da
vida.


(se há de morrer, que anoiteça.)






Silêncio
os ratos roem meu corpo
por que ninguém chora (?)

os ratos roem meu corpo

ah meu deus se alguém chorasse
talvez eu soubesse de pronto
que estou vivo

talvez até gritasse


Elegia
pedaço de metafísica
a tua boca é uma emoção
acomodada sobre a geografia dos dentes

gramática e cor
compondo os sintomas do riso

paisagem edificada
sobre
suavitez
a primavera em cabelos
reforça o arco-íris
teus olhos

(policromia é uma falta de escuro
na noite que te comporta)

alva e repleta
tua pele se aperfeiçoa
bela e gentil
para o seio patente
em minhas muitas mãos
que jamais te tocaram

e a noite com seus etéreos
permanece estéril
enquanto teu olhar floresce manhãs

(guardarei meu beijo para o teu conhecimento
e meu corpo para o teu silêncio
que o futuro ainda não foi muito longe)

3 comentários:

John Lester disse...

Parabéns pela resenha. O Miguel merece.

Grande abraço, JL.

Léia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

É pai... vais deixar muitas saudades...