sexta-feira, 16 de outubro de 2009

UM POEMA PARA MIGUEL


Le Papillon blessée

Para Miguel Marvilla


Na atual névoa
das simetrias.
Quando se veem pungentes
os passos que reverberam certezas,
parece um capricho,
essa fieira de insignificâncias
(o rastro da borboleta).

Por isso, o silêncio resoluto
desse corpo flácido do homem
diante de nós.
(O retorno à condição humana é o recurso último
ao qual se entrega a borboleta em momento de agonia.)

Esses tantos
que se debruçam
sobre seu leito
não se apercebem da fraude.

(Na verdade,
o poeta não carece de existência corpórea.)

São borboletas que persistem
suspensas na cor indistinta do tempo.

Sempre restará o marolar das asas,
cortejando com seus signos,
aquele que, no absurdo da vida,
se aperceber
só.




Vitória, 10 de outubro de 2009

4 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Oi Jorge,
Constato em seu gesto, o quanto de nós se vai com o outro - quando o outro nos deixa. Isso me faz lembrar John Donne
"a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.
Um abraço

Dauri Batisti disse...

Passe por aqui. Li com um olhar de demoras... silêncio.

Um abraço.

Gustavo Felicíssimo disse...

Pois bem, meu caro. É como lhe disse: viver não é nada confortável. Cabe-nos endurecer, sim, mas como disse aquele velho esquerdopata, não se pode perder a ternura. Vale o poema, a dor é de quem sente.

Neuzza Pinheiro disse...

assim é, Jorge:

borboleta sai de casa
seca a asa
voa voa

borboleta brinca
brinca
borboleta rodopia

então
quando a corda finda

pousa

e por fim
repousa...