segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Poetas – Rita Brennand

Vários poetas nos dizem muito.
Alguns deles são conhecidos de todos, outros de muitos e a grande maioria de muito poucos.
Mesmo aqueles, já nossos velhos conhecidos, possuem inúmeros poemas por nós desconhecidos, não lembrados – ou simplesmente não lidos no dia oportuno para sua leitura.
Resolvi então, iniciar a postagem de poemas que tem me acompanhado ao longo dos anos.
Inicio com Rita Brennand, artista plástica e poetiza, que com seus 80 anos muito me emocionou. Seu único livro, Objetos da Terra, editado pelo poeta e contista Miguel Marvilla em 2001, permanece ainda inédito.

Criação
Estava tão conivente com o cubo
que me encubei numa tarde molhada.
Encubada, teria mais tempo para mim.
Já não cabia a idéia solta, descentrada.
Previ a cabeça enquadrada.
Liguei com o olhar os pontos dos cantos
com linhas retas raciocinadas.
Teci por horas a fio,
e vi-me de cubos ao cubo cercada.
Até que, em negro ponto, senti-me.
Sou energia contida, concentrada.


Estou à espera do big-bang.


Para não morrer

Para não morrer,
eu me pari como fazem as vacas
em qualquer campo.
Era de noite, de céu branco de via-láctea,
era de noite, de luz.
Dançava no pasto os vaga-lumes.

Eu me pari ao som do cria-criar
dos grilos.
Me parindo,
eu vim a tona,

me lambendo,
me respirando,
me cri-criando!

Era de noite.
Para não morrer,
eu me pari.

9 comentários:

Dauri Batisti disse...

LINDOS!

ivone disse...

simples e tão belo

Hanne Mendes disse...

Gostei muito do pouco que pude conhecer da obra dela.

Parabéns pelo novo visual do blog. Trocando o dia pela noite ou é só impressão minha?

Abraço.

Jorge Elias disse...

Dauri e Ivone,

Simples e belo!

Poesia limpida, sem hermetísmos, pulsante...

Um bela forma de fazer poesia.


Hanne


Que percepção heim!
É uma questão de luminosidade ...
É quando o silêncio me fala aos ouvidos...

Conte-me sobre a faculdade.


Abraço,

Luis Eustáquio Soares disse...

rapaz, na sociedade do fetichização, é sempre em outro lugar que deve soar a hora da verdade, a do poeta...?
muito bem, e te convido a outra leitura.
abraço,
luis de la mancha.

Oliver Pickwick disse...

Est poesia, "Criação", é fantástica. Essa autora, Rita Brennand, não tem que esperar mais nada, já "big-bangueou" há muito.
Os versos da segunda poesia são de uma criatividade incrível, e escritos numa linguagem preciosa. Não ficou claro se esta, é também da mesma autora, ou de sua autoria, prezado poeta.
Abraços!

P.S.: Obrigado pela indicação, tentarei encontrar o livro por aqui. Dentro de mais uns dias lhe darei retorno.

Art'palavra disse...

Escrevi um poema intitulado Retratos, há muito tempo e sempre o divulgo, quando chega o mês de março; um tempo, como dizem - dedicado à mulher. Veja no meu blog:www.ggrauna.blogspot.com

Anônimo disse...

Obrigada pela leitura de seus poemas, cri-criando é super criativo. Abraços, Leila Míccolis

Micheliny Verunschk disse...

oi, Jorge! Muito bacana seu blog (estou passeando ainda) e fico, particularmente emocionada pela sua citação à Ritinha Brennand. Amo-a de coração.