quinta-feira, 5 de agosto de 2010

POMPEI


Foto: grávida - Pompéia


Revisito o silêncio das trevas.
Sonhos adormecidos,
desfeitos por gestos
que precedem a consciência.
Sigo nos séculos,
interrompido no ventre da mãe.
Restos calcinados,
dispersos, estremados,
entrecortados pelo espanto.
O Céu sabe das cinzas.
Sempre soube...
E aproveitou-se da inocência
dos que não me conheceram
para dizer que me negaram a existência
ao renegar o Deus, o Cristo.
O Céu, criação humana, é ilusório.
Não este céu furioso,
de fuligem e chamas;
este é terreno, pragmático,
irrespirável,
eficiente em devolver à Terra
suas entranhas.
Não este céu preciso,
entornando água,
moldando,
fazendo onipresente
o ventre que me gerou.
Estou onde não existo.
Persisto.
Desafio o intransponível tempo
nesse ventre vazio
que seu olhar disperso fita.
Parto contigo.
Em sua memória o calor da sombra que não fui.
Assim o caos, serenamente,
retingirá de verde o olhar baço.
Estou além do pretenso molde
que permaneceu guardado pela redoma de vidro.

2 comentários:

Hilton Deives Valeriano disse...

Grande poema!

Jorge Elias disse...

Obrigado Hilton.
Estive recentemente em Pompéia.
Dentre o muito que me marcou, a grávida, dentro da redoma de vidro, foi algo que me tocou.
No dia de minha visita, como sempre, estava irriquieto, querendo ver o muito que se apresentava (respeitando o grupo do qual fazia parte). O tempo foi curto para tanta informação visual, tanta experiência emocional.
Preciso ir nestes locais sozinho (penso, às vezes). Nosso tempo, o do contemplador, é mais lento que da maioria das pessoas.
É isso...
Abraço.