terça-feira, 1 de julho de 2014

Minhas memórias das copas do mundo



                                                                  Jorge Elias Neto

Posso me dizer um veterano. São doze copas do mundo ... Posso me dizer, com tranqüilidade, médico, louco e técnico. Afinal, sou brasileiro, onde o pão e circo se equipara à Roma dos Césares.
Não me lembro da copa de 66, tinha então 2 anos ... Mas da copa de 70, apesar de não lembrar dos jogos – os quais acabei decorando, tantas vezes que assisti os vídeos ao longos dos anos (acabei guardando um selo histórico com a ilustração do soco no ar do divino Pelé ...) – lembro-me bem de sair com meu pai, jogo à jogo, na Avenida Jerônimo Monteiro e Avenida Beira-Mar ao som dos gritos e fogos. Alguém, por favor, me confirme se é delírio de criança, ou tiveram mesmo aquelas luzes no Penedo para receber o nosso Fontana ...
Fiquei abismado por saber dos “Noventa milhões em ação”. Já estava impressionado com os programas do Amaral Neto mostrando a Trans-Amazônica (e lembrar que meu irmão estava por lá com os irmãos Villas-Boas...). E dá-lhe “verde, amarelo, branco e azul anil. Eu te amo, meu Brasil, eu te amo...” E dá-lhe ditadura militar das aulas de Moral e Cívica no Colégio do Carmo ...
Veio 74 e o carrossel holandês... O Cruif e irmãos Vanderkerkhoff ... Mas o que me marcou foi a comemoração de um gol do Brasil. Dei um soco no ar e quebrei o lustre de cristal de minha mãe, corri e me joguei de joelho na sala (apenas me esqueci do tapete sintético que me causou queimaduras nas canelas) e, finalmente, peguei minha bandeira verde e amarela, corri para janela e desfraldei nossa flâmula para gritar um gol extasiado ... Olhei para baixo e só vi foi o vizinho do oitavo andar acender o pavio do fogo de artifício ... Tirei a cara, ouvi o estrondo e sentei arrepiado de medo na poltrona da sala. Passei a ser mais comedido em minhas comemorações.
E chega 78 dos irmanos ... Fiquei com aquele jogo do Peru entalado na garganta. Vai entender o que se passou com o orgulho dos herdeiros do império Inca ... Acabei de lembrar que ainda não conheço Matchu- Pichu... Uma lástima.
As copas de 82 e 86 me pegaram de calça curta. Encontrava-me no auge do fanatismo pelo futebol. Confiante com o excesso de craques ... Tínhamos uma grande seleção. Todo jogo nos reuníamos no Argentino com uma batucada de dar gosto – isso foi em 82. Já em 86, contavamos com a compreensão do Pirão que deixava aqueles jovens universitários beberem todas e batucar na frente do seu restaurante (e ele nem imaginava que, naquela época, nenhum de nós tinha grana para pagar por sua excepcional muqueca ...). Mas aquelas copas acabaram sendo duas grandes decepções...

As outras copas ... Das outras copas tratarei depois ... Isso é óbvio, se alguém está interessado em saber das memórias de um cronista entre quase 200 milhões de fanáticos torcedores ...

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