domingo, 10 de abril de 2011

Maria

E foi seguindo a viela
que te encontrei Maria...
Não fosse tão arredia,
não fosse assim – quieta –
até compreenderia
a sua boca aberta,
a sua timidez úmida.

E foi seguindo o dia
que te apreendi Maria ...
Em minhas calças abertas,
Suas mãos buliam, vadias.
Por que tu rias, Maria...
Por que tu rias, Maria ...

E foi seguindo a arrelia.
Ninguém nos interrompia.
Na boca eu te mordia
Na boca você cuspia.
Não te entendo Maria ...
Não te entendo Maria ...

E foi seguindo a folia.
Na rua, o cordel seguia.
Só eu me surpreendia.
O gozo que escorria
de sua boca imensa,
de sua boca macia.
Case comigo Maria....
Case comigo Maria ...

E foi seguindo a orgia...
A noite já se esvaia.
De pé, já não me agüentava.
No corpo, uma brisa fria
e o suor se derramava.
E este sangue Maria?
E este sangue Maria?

E foi seguindo a alegria.
A imagem se dissipava.
No chão, já me estendia,
e Maria se derramava.
Então és virgem, Maria?
Será possível Maria?

E foi seguindo agonia.
Uma multidão imensa
de mim se aproximava.
Eu só queria Maria,
que de mim se apartava.
Vida vazia Maria...
Fica comigo Maria!
Fica comigo Maria!

Enfim entendi – a vadia
vida que se encerrava.
Maria não era donzela;
Maria sequer podia
dizer-se minha amada.
Maria não existia,
foi-se na madrugada.

Jorge Elias Neto

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