sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Poema em homenagem aos cartunistas assassinados em Paris - do livro Rascunhos do absurdo

O risco
 


O risco era solto.
 
Vivia sem Pai,
sem Pátria.
 
Indecifrável,
esperneava ao mínimo
indício de caligrafia.
 
Ricocheteava nos lajedos,
saía chamuscado das rusgas,
mas sem resquícios de letras.
 
O risco não sabia,
mas era um hedonista.
 
Usava a camuflagem
dos desentendidos.
 
Serelepe, 
causava seus descaminhos.
 
O risco, ora era frouxo,
ora era tenso;
seguia desmoldando intenções.
 
Era corisco,
não se deixava
ferrar com palavras.
 
Incorrigível,
só tinha um temor:
a descontinuidade.
 
Criava-se no silêncio,
não deixava rastros.
 
Optou pela clandestinidade
ao abandonar o traço.

Um comentário:

Paula Barros disse...

Um bonita homenagem diante deste tragédia absurda.