quinta-feira, 19 de julho de 2012

Eugenio Montale - I


Desci um milhão de escadas


Desci, dando-te o braço, ao menos um milhão de escadas
e agora que aqui não estás é o vazio a cada degrau.
Mesmo assim foi breve nossa longa viagem.
A minha dura ainda, mas já não me ocorre pensar
nas conexões, nas reservas,
nas ciladas, nos vexames dos que crêem
que a realidade é aquilo que se vê.
Desci milhões de escadas dando-te o braço
e não porque com quatro olhos talvez se veja melhor.
Contigo as desci porque sabia que de nós dois
as únicas verdadeiras pupilas, ainda que tão ofuscadas,
eram as tuas.

(tradução Equipa "O Ponto de Encontro")

3 comentários:

Edson Cruz disse...

belíssimo poema e tradução à altura. parabéns Equipa.

bonetti arquitetura disse...

Que beleza, Jorge! Me avisa quando postar outros, por favor. Abraço!

Jorge Elias Neto disse...

Concordo Edson.
Não são muitos os livros de Montale traduzidos para o português. Postarei, ao longo dos próximos dias, poemas que selecionei dos livros que adquiri desse grande poeta.