domingo, 29 de novembro de 2009

Sombras e brisa


Foto: parede de trapos



Desabou a parede de retratos. Nada mais restava de pé.
Há anos repassava as mesmas imagens com o olhar de máquina de escrever manual. Até que as teclas emperraram...
A letra A do nome dela que agarrou-se ao S de separação.
Não pôde mais sair, ficou diante da parede a indagar respostas.
O mundo desconstruindo-se ao seu redor e ele não medindo esforços para manter-se
erguido sobre os escombros, que o espremiam cada vez mais de encontro a parede.
Tão exíguo tornou-se o espaço que seus óculos se arranhavam na moldura de vidro.
Os pelos da barba crescida entravam pelo vidro estilhaçado e roçava as belas coxas por debaixo do vestido branco.
A ausência de espaço não poupara nem mesmo as sombras.
Mas agora, todo passado era escombro.
E uma brisa irritante feriu-lhe os olhos através da lente quebrada dos óculos.

Um comentário:

Elton Pinheiro disse...

Bela narrativa. Bom isso..

"(...)repassava as mesmas imagens com o olhar de máquina de escrever manual. Até que as teclas emperraram...


Olhar de máquina de escrever (manual)é um dado importante.