quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sonolento


Quisera eu poder contar-te tudo, lúdico luar...
É que pálpebras me pesam de mais um dia...
Mas bem sei que, entre amantes, basta um sutil entreolhar,
para retirar dos guardados a palavra fugidia.


Mesmo assim, me esquivo dos teus olhos, cândida Lua...
É que as verdades fogem mais fácil de um olhar cansado...
Sei, entretanto, que é inútil querer poupar-te do que
                                                         [se insinua.
Em cada gesto tenso de meus dedos crispados.

Queria deitar-me em teu colo, luar idílico.
Apagar de minha mente esses pensamentos nômades;
e num ressonar de anjo te dizer de meu medo.


Só que a bruta vida que me faz ridículo
fez-me preso a esse chão de homens distantes.
Parto... outra vez sem ti... para o sono...
                                         [com meus segredos...

Jorge Elias Neto
(Verdes versos - ed. Flor&cultura - 2007)

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindíssimo poema!

Gabriel disse...

Esse é demais!

Jorge Elias Neto disse...

Lara e Gabriel:

Agradeço o comentário.
Esse poema (um soneto sonolento que perdeu a métrica entre um cochilo e outro) foi um dos poucos que publiquei em Verdes Versos com atenção para a rima.

Abraços,