sábado, 21 de maio de 2011

Mme du Deffand - moralista francesa (séc. XVIII)


" [...]
A mim me cabe falar-vos deste mundo de cá. Em primeiro lugar digo-vos que ele é detestável, abominável etc. Há pessoas virtuosas, ao menos que podem parece-lo, enquanto não atacamos sua paixão dominante, que é de ordinário, naquelas pessoas, o amor da glória e da reputação. Embriagadas com elogios, muitas vezes parecem modestas; mas os cuidados que tomam para consegui-los denunciam o motivo e deixam entrever a vaidade e o orgulho. Eis o retrato da maioria das pessoas de bem. Nas outras são o interesse, a inveja, o ciúme, a crueldade, a maldade, a perfídia. Não há uma só pessoa a quem se possa confiar as aflições sem lhe proporcionar uma alegria maligna e sem se aviltar a seus olhos. Falar de prazeres e êxitos? Isso faz nascer o ódio. Praticais o bem? O reconhecimento pesa, e encontram-se razões para se eximir dele. Cometeis algumas faltas?
Elas jamais se apagam; nada pode repara-las. Vedes pessoas inteligentes? Só estão ocupadas com elas mesmas; desejam ofuscar-vos e não se darão ao trabalho de vos instruir. Tendes negócio com espíritos mesquinhos? Eles estão atrapalhados com o próprio papel, manifestarão descontentamento com sua esterilidade e sua pouca inteligência. Na falta de espírito encontram-se sentimentos? Alguns, nem sinceros, nem constantes. A amizade é uma quimera: só reconhecem o amor; e que amor! Mas basta, não quero levar mais longe minhas reflexões: elas são o produto da insônia; reconheço que um sonho seria preferível."

Mme du Deffand - carta endereçada à Walpole - 1-04-1769


Marie Anne de Vichy-Chamrond, marquise du Deffand (1697– 23 September 1780)

2 comentários:

Hilton Deives Valeriano disse...

Ler os moralistas franceses é sempre um exercício de reflexão contra a banalidade! Em nosso país isso se torna imprescíndivel!

Unknown disse...

PERFEITO!

Uma visão real da sociedade que em nada mudou desde 1780. às vezes penso que a bondade é ilusão.

Com carinho!

Mirze