quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Balada da carne


Já que o dia é par: falemos de amor.

Já que à frente sempre restará o horizonte:
não me enterrarei além dos olhos.

Já que é no vazio insalubre da cura
que se percebe a alma evanescendo:
tragam-me uma taça.

Já que eu disse sim:
limitem os convidados
presentes à minha embriaguez.

Já que a palavra é uma puta:
rasguem o poema.

Já que a rima é farta e o poeta um estorvo:
que se recompense o primeiro idiota
a me cortar a carne.


(do livro Rascunhos do absurdo )

2 comentários:

Elton Pinheiro disse...

Excelente.

Pedro Fernandes disse...

Caro poeta, lindo poema; tem em si a força pulsante e a violência dócil da palavra - essa que nos rasga e cura, que nos sangra e acalenta.
Tomei conhecimento de sua toca virtual pelo email que recebi agora a pouco na minha caixa acerca da revista "Diversos e afins".
Esteja convidado a conhecer o caderno-revista 7faces pelo link http://set7aces.blogspot.com/

Saudações