O sujeito não
é um sinônimo do eu. O eu é o conjunto mutante e sempre fragmentado com o qual
nos identificamos, embora conscientes de que ele não tem nenhuma unidade
duradoura. Com o diz Pirandello em “Seis personagens á procura de um autor”, “
o drama, em minha opinião, está todo aí dentro, Senhor, na consciência que
tenho, que cada um de nós tem, de ser “um” quando ele é “cem”, “mil”, de que
ele é tantas vezes um quantas possibilidades nele existem”.
Tema que se
difundiu na experiência contemporânea e que deve ser levado ao extremo, pois
somente sobre as ruínas de um eu decomposto é que se pode impor a idéia de
sujeito, que é o contrário de uma identificação consigo mesmo, de um amor a si
mesmo que nos faria reivindicar cada um de nossos pensamentos e cada um de
nossos atos como se pertencessem a nós mesmos enquanto sujeitos, quando não
podemos nos perceber como sujeitos senão fazendo em nós um vazio que expulsa
tudo quanto depende do eu.
Alain Touraine - Um novo paradigma: para compreender o mundo de hoje; tradução de Gentil Avelino Titton, terceira ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
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