segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Máscara mortuária

Guardei meu último gesto.
Será um movimento
exato da mão
a cortar pelo talo
a palavra
definitiva.


Dirão as carpideiras:


Reparem
o riso e todos
esses dentes;
a frouxidão da boca
cansada de gargalhadas
e asneiras.


O cúmplice,
me encontrará sem palavras
e gelado
como a verdade.

Jorge Elias Neto

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ángel González traduzido pelo poeta Jorge Elias Neto

O poeta Hilton Valeriano publicou em seu blog POESIA DIVERSA uma série do poeta ÀNGEL GONZALEZ que traduzi.

Vale ler este excelente poeta.

Abraço para todos,



Jorge Elias Neto



Link para leitura: http://www.poesiadiversidade.blogspot.com/

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Thelma Maria Azevedo - HOMENAGEM

Foto: Thelma Maria Azevedo ao lado do escritor capixaba Francisco Aurélio Ribeiro

Faleceu em Vitória uma visionária de 80 anos. Thelma Maria Azevedo,que organizou o primeiro site, um verdadeiro banco de dados para pesquisa e leitura, da poesia capixaba. Essa menina conseguiu rastrear nos últimos anos 2281 poetas em todos os cantos do Espirito Santo. De uma geração muito anterior a tecnologia, pacientemente, criou o site POETAS CAPIXABAS. Do mais desconhecido prosador que lavra a terra ao mais celebre poeta de nosso Estado poderá ser encontrado nesse site. Tenho certo que uma obra fundamental para pesquisadores futuros. Um beijo àquela que primeiro me recebeu, primeiro publicou um poema de minha autoria. Um beijo no coração. Site poetas capixabas: http://www.blogger.com/goog_496769118

sábado, 19 de novembro de 2011

René Char

RENÉ CHAR e a poética do combate
Carlos Alberto Shimote

Lutadores
O pão das estrelas me pareceu tenebroso e rijo no céu dos
homens, mas em suas mãos estreitas, li a luta dessas estrelas
convidando outras: emigrantes da ponte, sonhadoras ainda;
recolhi seu suor dourado, e por mim a terra parou de morrer.
René Char – Le Nu Perdu/1971

I – Um poeta de combate (cronologia 1907-1948)
Poeta, homem de letras, esteta, crítico e curador de artes, militante político, interlocutor de filósofos, amante da filosofia, pesquisador das linguagens visuais e verbais, interlocutor de pintores, amante e devoto da pintura, intelectual proteiforme e multifacetado. René Char é ainda um escritor quase desconhecido no Brasil: ele nasceu em 14 de junho de 1907, numa propriedade rural em Névons, Isle-sur-la-Sorgue, nos arredores de Avignon, na região da Provença, no sul da França. Poeta profundamente envolvido com a natureza da sua região natal, sobretudo com o rio Sorgue; referência importante em sua obra:
A conduta dos homens da minha infância tinha a aparência de um sorriso do céu dirigido à caridade terrestre; saudava-se o mal como se fosse uma rapaziada da noite. A passagem de um meteoro comovia. Apercebo-me de que a criança que fui, tão disposta a apaixonar-se como a ferir-se, teve muita sorte. Caminhei sobre o espelho de um rio cheio de anéis de cobra e danças de borboletas. Brinquei em pomares cuja velhice robusta dava frutos. Escondi-me nos juncais, guardados por criaturas fortes como carvalhose sensíveis como pássaros.
Este mundo asseado morreu sem deixar ossários. Ficaram apenas cepas calcinadas, superfícies errantes, pugilatos informes, e a água azul de um poço minúsculo guardado por aquele Amigo silencioso
A poesia de Char restringe-se, algumas vezes, à expressão mínima e às coisas mais banais da realidade, um átimo, um instante de luz, um clarão; iluminação repentina de uma beleza que se revela aos olhos do poeta em puro fulgor. A apreensão e percepção dessas coisas banais e quase ordinárias, transformadas ainda assim em poemas, aproxima Char de Hölderlin que, em seu romance Hipérion, declara justamente que “nada é tão pequeno e tão pouco que não se possa adadmirar”
Para Char, o poeta deve ser capaz de perceber o poético escondido na escuridão, mesmo porque para ele, o poético nada mais é do que uma iluminação, um instante de visão mágica em que a poesia se desvela e se mostra como uma eclosão luminosa. Para Char, compete ao poeta buscar no cotidiano a revelação da poesia, a qual surge para os espíritos menos cansados e mais vigilantes como uma espécie de epifania: o poeta – afirma ele num dos fragmentos de Partilha Formal – “deve manter o equilíbrio entre o mundo físico da vigília e o perigoso bem-estar do sono”, pois a “vitalidade do poeta não é a vitalidade do além mas um ponto diamantado atual de presenças transcendentes e de tempestades peregrinas.”

Être poète, c'est avoir de l'appétit pour um malaise dont la consommation, parmi les tourbillons de la totalité des choses existantes et pressenties, provoque, au moment de se clore, la felicité.

Ser poeta é ter o apetite de um mal-estar cuja consumação, entre os turbilhões da totalidade das coisas existentes e pressentidas, provoca, no momento da eclosão, a felicidade.

Para os interessados em ler mais sobre o poeta René Char basta acessar http://www.apropucsp.org.br/revista/rcc01_r12.htm

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sua sombra que passa

                                   O tempo, meu amor,
                                               sempre se dilata
                                              e marca sua face.



O rio se adianta
em desandada
pressa,
e sua sombra,
esguia e distante,
é mais inquieta
que as águas.
Nas horas tardias
sua sombra
         permanece.
Mas tomba
o sol,
e resta apenas a palidez
de seu espanto.

Jorge Elias Neto

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Caê Guimarães - Crônica

LETRAS TORTAS PARA UM POETA MORTO

Caê Guimarães

As palavras doem, não? Por isso as manuseia com a santa obsessão pelo tempo certo, a melodia inusitada, as imagens que se alteram e os fonemas que se aliteram, a forma que embala o conteúdo até se tornar o próprio conteúdo. Elas giram no imenso liquidificador que as liquefaz. São tantas e tontas, soltas, tortas, espertas, ferozes e amenas. Tentam escapar pelos buracos da cabeça. E o que resta é domá-las, retorcê-las e moldá-las como se molda a água, que cabe em qualquer recipiente.
As palavras também causam fausto, correto? Há momentos em que o melhor é fugir, mas elas seguem você como moréias ágeis e traiçoeiras que se esgueiram por entre tudo que separa e ata seu pensamento ao mundo. Não adianta resistir. Você sabe disso como poucos, mas ainda assim há a náusea, a avalanche de frases, verbos e versos. Vez ou outra um romance inteiro surge enquanto dirige ou quando espera pacientemente ser atendido pelo gerente do banco. A coisa toda explode e não há como conter o que urge. Aí você corre a mão no bolso, saca uma caneta e um bloco. E escreve.
Sabe o que é poesia? É a tentativa nossa vã de todo dia de vencer a morte. É quando olhamos para esse Deus que nos joga na vida e nos saca dela às vezes repentinamente e falamos: “Escute aqui, seu velho doido, eu também posso criar mundos. A extensão do meu punho e dedos desenha códigos que contêm vida, tão definitiva e exata, tão efêmera e abstrata quanto a existência na qual você me atirou aleatoriamente sem me consultar. Ouviu?” Mas a resposta nunca vem. E você segue escrevendo.
Também te dão prazer as palavras, acertei? É indescritível a sensação de moldá-las. Nem um escritor como você consegue a definição exata. Penso que, de verdade, ninguém conseguiu até hoje. Porque há coisas que habitam o indizível. E não é apenas tormento e dor. O gozo, o êxtase, a maravilha de criar mundos com a linguagem é inexplicável. É como se você tomasse o lugar do tal velho doido e irresponsável. Uma personagem morre, a outra se esgueira pelas sombras, há as que se atiram nos braços uma da outra e as que dormem penduradas no teto. Há labirintos. E asas de cera para escapar deles. E há o sol, meridional, implacável e generoso, que dia após dia nasce e morre, desaparece e surge em outra arquitetura.
Siga em paz, Miguel Marvilla. Diga ao velho maluco aí de cima que se não tiver papel ou caneta à mão você não vai deixá-lo dormir. Por aqui, o Livrão segue sendo escrito. Mas o capítulo desse final de semana bem que poderia ter sido cortado.

Crônica escrita para o Jornal A GAZETA em homenagem ao grande poeta capixaba
Miguel Marvilla falecido em outubro de 2009

Caê Guimarães nasceu no Rio de Janeiro em 1970 e cresceu no Espírito Santo. Viveu por temporadas em Ouro Preto e Belo Horizonte. É poeta, cronista, escritor e jornalista. Desde o final dos anos 80 desenvolve pesquisas com a linguagem em verso e prosa. Participou da exposição Psicotrópicos, com o artista plástico Luciano Cardoso, publicou os livros Por Baixo da Pele Fria (poesia - Massao Ohno Editor, 1997), Entalhe Final (conto, Massao Ohno Editor, 1999), Quando o Dia Nasce Sujo (poesia, Secult, 2006), De Quando Minha Rua Tinha Borboletas (crônicas, Secult, 2010) além de poesias e contos em antologias, jornais literários e revistas de diversos locais do Brasil e exposições e recitais no Brasil e na França.
O autor também é cronista no jornal A Gazeta, escreve resenhas literárias na coluna Entrelinhas, do suplemento cultural Pensar, do mesmo jornal. Suas oficinas de texto e poesia abordam aspectos da mitologia, do estudo da linguagem e a interface da escrita com outras manifestações artísticas. Atualmente, Guimarães está escrevendo o romance Encontro Você no 8º Round, e está em estúdio para gravar o áudio-book A Aranha Minimalista. Ele escreve regularmente no  Site

domingo, 6 de novembro de 2011

Odysséas Elytis

Abro a minha boca e o mar se regozija
E leva as minhas palavras a suas escuras grutas
E às suas focas pequenas as murmura
Nas noites em que choram os tormentos do homem.


Abro as minhas veias e enrubram-se os meus sonhos
Transformam-se em arcos para os bairros dos meninos
E em lençóis para as raparigas que velam
Para ouvir às ocultas os prodígios do amor.


Aturde-me a madressilva e desço ao meu jardim
E enterro os cadáveres dos meus mortos secretos
E às estrelas traídas que eram suas
Corto o cordão dourado pra caírem no abismo


O ferro enferruja e eu castigo o seu século
Eu que já experimentei a dor de mil pontas
Com violetas e narcisos a nova
Faca vou preparar que convém aos Heróis.


Desnudo o meu peito e os ventos se desatam
E vão varrer as ruínas e as almas destruídas
Das espessas nuvens limpam a terra
Pra que surjam à luz os Prados encantados.

Tradução de Manuel Resende


Odysséas Elýtis (em grego: Οδυσσέας Ελύτης; Iráklio, 2 de Novembro de 1911 — Atenas, 18 de Março de 1996), foi um poeta grego.Nascido Odysséas Alepudélis (Οδυσσέας Αλεπουδέλης) na ilha de Creta, estudou Direito na Universidade de Atenas mas não se formou. Ele foi o último de seis filhos de Panagiótis Alepudélis e María Vrána, que se mudaram para Atenas quando Odysséas era pequeno. Em 1923, visitou a Itália, Suíça e Alemanha.Seu principal trabalho, escrito durante quatorze anos e publicado em 1959, é Axion Esti, um poema que tenta identificar os elementos vitais nos três mil anos de história e tradição da Grécia e onde imagens do sol e do mar misturam-se com a liturgia Ortodoxa e os elementos pagãos com o Cristão. Outros trabalhos incluem Ανοιχτά χαρτιά ("Anoichtá chartiá", ou seja, "Papéis abertos"), importante coletânea de ensaios sobre literatura.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Reflexão


Em que pese os malefícios para o corpo,
arrasto comigo a consciência
de minha insignificância.