terça-feira, 29 de março de 2011

Le bruit d’absence

                                                                                                 photograph © 2005 Steven Smith

                                     Esperança é uma simples questão
                                                 de instinto de sobrevivência.
Mangas curtas.
Mãos sujas – postas –
sob o pano verde.
Cartas esparramadas.
No assoalho – o redemoinho –
espiral ao avesso.

Boca larga, a da sombra...
Escondida,
entre longos dedos.

Copo emborcado.
Guimba pendurada
na boca murcha.
(Como é bela e inútil
a centelha do último cigarro).

Barba imunda,
ralando a ferrugem
da mesa da Brahma.

(Qual vício
substituirá o desespero?)

Ossos – despojos – largados.
Ponte pênsil,
de trêmulos pingentes,
a pressagiar o
chão que se abisma.

(Soluços e baba
dizem da metafísica.)

Arrepio.
Catar gargalhadas
nas vagas que já
recolhe o corpo
(que se distancia.)

E as bordas do sol
roçando o horizonte.
(tempo de crendice,
                de terço).

Humores, farrapos,
cachaça.
Rumores, gargalos,
cabaços.
Batuques, bagulhos,

                                                 Carcaça...

sexta-feira, 11 de março de 2011

CONVITE PARA LEITURA

Prezados leitores e amigos:

O Portal Cronópios de Literatura Brasileira publicou o ensaio de minha autoria denominado:
"Para tudo existe um peso, uma medida, e uma visão distorcida - Considerações sobre Vanguarda e Tradição na poesia brasileira".
Convido para leitura no endereço: http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=4920

quinta-feira, 3 de março de 2011

Poema justo



                                                                       Não fechar a frase, não.
                                                                    Deixar a palavra ao relento.
                                                                                                                       Miguel Marvilla

Raspar as sobras
da imagem – nata
– gordura –
o escorregadio da margem.
O liso da casca.
A paisagem.
Da palavra – o inesperado –
a calda – rasgos e fendas.
Na vastidão – passagem.


Rever emendas.
Acumular entulhos –
vazios.
Cobrir de aragem.


Recolher do baixio – memórias –
aboios –
arrelias.


Desviar das têmporas –
O estampido – tiro –
peleja
de louco!


Repousar no estio.
Aconchego – relento.
Remover farpas – asperezas –
ao vento.

Lambuzar com visgo – isca –
voragem.


Revolver o leitor
no espaço-tempo.
Disparar a contagem.

No continente dos olhos –
despertar do torpor...
                                                       A linguagem.

Jorge Elias Neto