terça-feira, 11 de outubro de 2011

Apocalipse verde


O mar afoga as colinas
onde até anteontem os passos
deixavam marcas de certezas.
Os três ou quatro versos
               que eu deixei
voltaram ao sal.
Já não restam vogais,
somente rastros
na rocha dos tempos.
Rezar não adianta;
na cruz – puleiro dos derradeiros papagaios –,
os musgos viçosos
                sobrevivem.
O VERBO partiu
e levou consigo
o pecado.
O mundo suspira aliviado
o retorno à solidão.

Jorge Elias Neto

2 comentários:

Aqueiva disse...

Jorge, O mundo suspira aliviado
o retorno à solidão -- o mundo nos é indiferente: sopramos pra lá e pra cá palavras, e o que resta mesmo?!

Jorge Elias Neto disse...

Sei disso Aqueiva.
Talvez seja eu que suspire por vislumbrar a possibilidade de um mundo preservado de tantas atrocidades ...
Tento fazer, com esse poema, que o leitor reconheça sua insignificância. O que costumo, insistentemente, chamar
de percepção (esta palavra já esta cansada na boca de todos) ou entendimento de nossa irrelevância relativa. E é esta expressão "relativa" que pode vir a fazer alguma diferença no futuro (desde que se tenha desbancado todo antropocentrismo - o que vislumbro como improvável.)
Nossas intervenções no Mundo (na natureza) são, via de regra, de uma infelicidade tremenda.
Como disse você: sopramos palavras ... E se é o que resta, tento fazê-lo com toda força.