À BEIRA BEL
E uma onda com alguns destroços cai sobre mim.
Um toco de mastro envolto em fios de riquezas esmaecidas
e algas presumidas.
Ainda sóbria, bordada agora num casco de borco, uma insígnia.
Apagada para as grandes distâncias, não para as minhas pupilas,
valsa com as medusas a estrelinha-do-mar, sem pouso, decaída.
Com os búzios do fundo que me traz a navalha das marés,
os flancos fluidos da Beleza e a mão reflexa de um maestro.
Ouço teu torso nu e fotográfico agitar-se com as últimas notícias:
"A Carne Escassa dos Corais" e "A Morte Clínica dos Manguezais".
Cardumes de fatos chegam-te à boca descarnados e intemporais.
Teus olhos cheios de mares e sombras imergidas,
olhar pendente crescendo por entre as ondas pélvicas e dorsais.
Teus longos cabelos oscilando soltos e translúcidos sob a água.
Tua mão acenando para fora de teu palco prepara-me
um levantar das ondas em prodigiosas colunas.
Esta tua voz que, submersa, persigo ao nadar-me em angústia.
Estas tuas mãos que, adivinhadas, procuro ao avanço da tempestade.
E meus olhos em toda sua insuficiência atlânticos
em teus seios de maré grande, cheios, espumando !
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Mas um manto de ondas atira-me aos pés o corpo do Desejo
totalmente desfigurado, sem vida, regressando ...
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MARCO AQUEIVA, poeta, professor de literatura no ensino superior, autor de NESTE EMBRULHO DE NÓS (Scortecci, 2005), vencedor do III Prêmio Literário Livraria Asabeça – categoria Poesias, e de SÓIS, OUTONO, SOU? (Dulcineia Catadora, 2009), é colaborador de publicações impressas e na web.
domingo, 16 de outubro de 2011
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