quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Borgiana I
Atiro os cacos
do espelho partido.
Busco-os no chão,
onde as imagens já se dispersaram.
Com o que resta na moldura,
brinco de cortar os dedos,
encaixando respostas
no rosto trincado.
E se, no entanto, a figura
se assemelha ao medo,
remisturo todo
o ser desfigurado.
Pois a faina louca
de remexer segredos
fez-me encontrar as sombras
dos dias passados.
Jorge Elias Neto
Vitória, 05 de outubro de 2010
Postado por Jorge Elias às 12:43 PM
Marcadores: Borgiana I, Poema
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5 comentários:
Mosaicos incompletos, seguimos, tentando recompor o que já não mais se recompõe. Falta sempre um pedaço - o que virou pó.
Lindo poema, Jorge. Que venha o II! Abraço.
Reencontrar-se nos cacos é quase um renascer. Lindo poema!
Bjos
Jorge,
a minha leitura é que a memória nos prende e nos liberta, ao mesmo tempo... ficou bem urdido o poema.
Armadilha?
Um abraço.
Perfeito retalho. Juntando todos os meus cacos, mal pude chegar ao tamanho de um pedacinho seu.
Abraço!
A metáfora do espelho, recorrente na obra de Borges (e todos nós poetas) nos possibilita muitas interpretações.
Revisito este tema sem nenhuma pretenção de originalidade. O faço principalmente como parte de um projeto de homenagem a este autor que admiro imensamente.
Agora, o que engrandece o texto são os comentários aqui deixados. Esta interlocução abre um horizonte para o poeta (ora leitor).
Obrigado.
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