"Nenhuma circunstância exterior substitui a experiência interna. E é
só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo. São
eles que constituem a singularidade de minha vida".
Carl Gustav Jung
O que se dispersa além dos olhos
diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo.
Estarei na ultima idade.
Quando ruir a biblioteca
não restará mais nada.
Sem nenhum escrúpulo, já estarei
a mijar nas calças todas as cervejas
que pensei esquecidas.
Aprenderei que não só a memória,
mas também a bexiga dos velhos,
despejam seus guardados...
E como ancião,
terei em meus ouvidos um ruído agudo
a dizer da morte ...
(esse crepúsculo atravessado na garganta).
Mas minha memória recente, sempre desatenta,
privilegiará as flautas de antanho,
olvidando a impertinência dos últimos segundos.
Saberei que retive com primor
uma certa dignidade burguesa.
Execrada nos versos.
Denunciada no franzir da testa.
Em minha face retalhada,
Será definitivo
o rendado da ironia.
Recearei de alguns saberes, sem dúvida.
Mas um cristão tardio, espero não ser.
Lembrar: não fechar o ciclo previsível de tantos homens.
Não me permitir, ao menos, essa contradição.
Jorge Elias Neto
domingo, 3 de outubro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário