Ilustração "Morro de Vitória": Lorena Elias
A cidade cresce, se descaracteriza, fica cinza.
Os faróis dos carros só são belos nas fotos noturnas com longa exposição do diafragma – se disfarçam em fachos luminosos.
Os indivíduos não se apercebem, é massa disforme à espera do sinal verde que chega e parte sem que eles saiam do lugar.
Sou mais um, mas insisto em olhar em volta, pro lado, ser chamado de desatento, esbarrar nas calçadas. Não me arrependo.
E foi por ser assim que olhei para cima.
No morro, um mundaréu de casas, tão juntas como uma corda de caranguejos postos à venda nas calçadas – cinzas e sufocadas.
Fui olhando cada vez mais alto, e na iminência do azul, em uma imprevista descontinuidade entre as casas, eu vi balangando uma criança alada.
Ela estava lá, com seu balanço, alheia aos casuísmos, estatísticas, caos, fatalidades... Indo e vindo sobre as malfadadas casas.
Pêndulo de minha vida! Chuta pro alto, com seus pés meu desassosego!
Um beijo criança... Mil beijos! Estremece o Morro; seja o centro gravitacional de seu Universo; desmente nesse segundo as verdades do Absoluto!
Abriu o sinal...
Despeço-me da criança, pois tardar não posso (podia ser um pouco pior o trânsito em minha cidade).
Ao menos agora sei que naquele sinal existe a árvore com seu balanço. Sei que ali encontrarei, quem sabe outra vez, alguma criança a pincelar de verde um sinal de esperança para os que tentarem vislumbrar o céu.
* Para quem quiser ver o menino, é só parar no sinal de entrada da terceira ponte, na Avenida Desembargador Santos Neves, no sentido Praia do Canto – Centro, ao lado do posto da Shell. Bem no alto do morro está a arvore com seu balanço.
Para todos os amigos que desça, sobre todos, o olhar de nossas crianças.
Forte abraço nestes dias de festa,
Jorge
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O vai-e-vem da esperança
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5 comentários:
Muito boa crònica. Vou procurar ver o tal balanço.
Abraço.
Blz!
abs,
Marcelo
(notou que até para escrever tb estamos num sinal!)
Muito bonito, Jorge! Um bom natal!
..essa criança alada que nunca é vista, e no final do ano é usada como "esperança" para a classe média... hoje em dia somente os abençoados com a poesia podem vê-la, os que de alguma forma procuram a verdadeira esperança. parabéns.
Elton, Priscila, Dauri e Marcelo,
reintero os comentários de José Augusto Carvalho quando nos diz da importâcia do olhar da crianças.
Estou de férias com meus filhos, compartilhando olhares ...
Para todos queridos amigos meu carinho e sincero abraço,
Jorge
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