quarta-feira, 8 de julho de 2015

A fábrica de nuvens


                                                         PONTA DE TUBARÃO

Roubaram-me a linha do infinito. Não posso mais ver o mar despencar no vazio, vejo apenas uma fábrica, um porto e os navios. Como é possível ser poeta sem o interminável? Mas dá-se um jeito – aprendi isso com o tempo.
E, nesse caso, bastou olhar, em um fim de tarde, para os lados do Tubarão e ver a chaminé da fábrica. Ela, de um fôlego inabalável, me disse: “Aquela nuvem que passa lá em cima sou eu”... Música antiga, caros saudosistas ... E eu olhei a nuvem. E tenho olhado desde então como ela compõe o céu de minha terra, como ela consegue, impassível a tudo e a todos, manchar de cinza até mesmo aqueles dias em que desvio dela o olhar maravilhado com o céu de brigadeiro onde não sopra o vento nordeste.
Em dias de chuva, de nuvens grossas e cinzentas, parece que, com o orgulho ferido, ela acrescenta  algo  mais à escuridão do dia.
E nas noites ... Ora amigos, olhem para a fábrica de nuvens durante a noite. Sob o tom que o céu assume devido às milhares de lâmpadas ligadas, ela se exibe como diante de holofotes, parecendo competir com a lua pelo protagonismo da noite.
Seria só isso se não fosse a meticulosidade da fábrica de nuvens. Pois ela também é discreta e, não fosse o artista Kleber Galveas mostrar, ano após ano, que a tela é o cinzeiro da pós-modernidade, nem os cidadãos que se pintam de preto na orla de Camburi, ela bem que tentaria passar ao menos um pouco despercebida.
Resolvi então copiar o inabalável artista da Barra do Jucu. Fiz um experimento.
Pintei de verde o cacto enegrecido de minha casa. Como o artista, usei as mãos – pois, em meu caso, a tela possuía espinhos.
Confesso que os poucos espinhos não me feriram mais do que minha mão enegrecida.
Mas, na minha soberba de homem, senti ter pintado de verde o cacto que persiste em minha varanda. Como fosse eu Tistou, o menino do dedo verde, a pintar de verde a superfície das plantas asfixiadas. Quisera ter o dedo azul para pintar o céu e um dedo-borracha para apagar de vez a cor cinza que paira, impune, sob o céu de minha Terra.

Jorge Elias Neto


Um comentário:

Unknown disse...

As claimed by Stanford Medical, It's indeed the SINGLE reason women in this country get to live 10 years more and weigh 19 kilos lighter than we do.

(By the way, it is not about genetics or some secret exercise and absolutely EVERYTHING around "how" they are eating.)

P.S, I said "HOW", and not "what"...

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