Retirei do teu berço
o camafeu com um anjo,
desarrumei tua cama,
desarranjei tua vida,
te despi
de deus.
Enveredei na noite.
As sombras inocentes
dos teus pequenos
dedos teciam
figuras bizarras
nesse ideal
de infância.
Desatinei na lida
ao julgar-te segura;
foi a escolha errada.
A cinderela
atenta, te disse boa noite
nas núpcias do álcool
com o sangue
de tua carne.
E a multidão aflita,
dos jovens sem sossego,
se embrenhou entre nós,
mostrando os peitos hirtos,
as coxas,
os dedos,
a urgência dos sexos,
pra te impor um rótulo,
pra te fazer escrava.
Desconhecida,
percorria o nada,
um nada
além do vazio
dos teus olhos miúdos.
Já não mais
sustinha
o ser uno
transtornado
essa pasta quântica
dos cravos
de Jesus.
Já se ignorava
a verdade das açucenas
pensas no abismo.
Pestanejei,
desdisse minhas crenças,
interpretei o oráculo
desse Mundo seco
que cruzou faminto
com tua beleza.
Jorge Elias Neto
Um comentário:
Reli o poema no Cronópios - aproveitei e passei por aqui para ver/ler os novos posts. E sempre vale a pena. Parabéns! E sorte nossa!
Afonso
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