quarta-feira, 15 de junho de 2011

PENHOR

                       Para Gabriel, meu pai


Dezessete anos...
Essa distância
não se mede pelo quanto de terra
cobre teus restos,
teus sonhos...


Tua sombra não tem o gosto
que meu paladar deseja.
Não lambi o granito preto
de teu túmulo;
mas sinto o gosto de cera,
que não me satisfaz – pois não
é teu gosto.
Por isso não te visito.
Meus filhos não te visitam.
Se eu morresse hoje,
e decidisse pelas cinzas,
ficarias perdido na última
alameda, à esquerda da figueira.


Nem teu relógio de ouro me serve.
Fosse de couro a pulseira,
eu a lamberia,
e ficaria refestelado,
com o sal de teu suor.


Jorge Elias Neto

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