Admirai-vos de que essa matéria, misturada confusamente, ao sabor do acaso, tenha podido constituir um homem, visto que havia tantas coisas necessárias à constituição de seu ser, mas não sabeis que cem milhões de vezes essa matéria, avançando no sentido de formar um homem, ora deteve-se a formar uma pedra, ora o chumbo, ora o coral, ora uma flor, ora um cometa, pelo excessivo ou demasiado pouco de certas figuras que ocorriam ou não ocorriam nesse processo de formar um homem? Não é nada de espantar que, em meio a essa infinita quantidade de matéria em constante movimento e alteração, tenha havido a criação dos poucos animais, vegetais e minerais que conhecemos; como não é de espantar que em cem lances de dado ocorra uma parelha. É portanto impossível que daquele revolutear não se fizesse alguma coisa, e essa coisa será sempre admirada com espanto por um doidivinas qualquer que ignore quão pouco faltou para que ela não se fizesse. (Voyage dans la lune – Cyrano de Bergerac)
“Se pensarmos que essa peroração em favor de uma verdadeira fraternidade universal foi escrita quase cento e cinqüenta anos antes da Revolução Francesa, veremos como a lentidão da consciência humana em sair de seu parochialism antropocêntrico pode ser anulada em um momento de invenção poética.”
In Ítalo Calvino. Seis propostas para o próximo milênio. Companhia das Letras, 1990. (Lezioni americane – Sei proposte per il prossimo millennio, 1988)
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Cyrano de Bergerac
Postado por Jorge Elias às 10:15 PM
Marcadores: Cyrano de Bergerac, texto
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3 comentários:
Bravo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
sim,e nosso antropocentrismo, ou a isso que chamamos de humanidade, ou de humanismo, já nos pesa em nós, insuportavelmente, e nos outros seres, com nossa metafísica de nós pra nós mesmos. é chegado o momento do embate pra metafísica pluri-universal, orquestração de seres.
valeu pela leitura,
luis
ps. me disse que lançaria um livro..
Salve Jorge!
Verdes Versos chegando?! É, estamos à espera. Por aqui sempre, embora em silêncio. Feliz pela visita.
Um abraço
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