Hoje resolvi voltar ao ano de 2007 e resgatar um texto que escrevi no dia 23 de dezembro. Podia ter publicado antes, mas ele ficaria esquecido dentre tantas mensagens veiculadas nos Blogs pelos quais todos nós passeamos.
O poeta ... ou melhor, o homem, resolveu despedir-se da poesia e ir encontrar-se com Drummond, na fila do feijão, para tomar uma ducha fria de realidade...
No caminho Sérgio Buarque de Hollanda lhe sussurrou: “ O homem cordial morreu...”
Ressoava, em seus ouvidos, o estribilho: “Noite feliz, noite feliz ...” convidando-o à ceia de Natal.
Mas, pode-se dizer tudo de um poeta, menos de um suposto déficit de memória.
Não! Seria um despropósito ficar garimpando palavras, tendo nos olhos, refletidas: panelas vazias, mãos vazias – vidas definitivamente vazias.
Resolveu então embriagar-se para desfazer-se da realidade.
A certa altura fez um brinde:
– Um brin...de
Um brinde ao homem que vive desfiando seu rosário de insensatez!
Viu-se aí diante de um paradoxo – o Homem. Tão belo ser (estava prestes a se transformar em ferrenho defensor do niilismo), fruto do esmero da evolução, perpetrando a desgraça em um mundo maravilhoso.
Reparou então que, por instante (enquanto não elaborava uma forma mais objetiva de se portar diante da complexidade da vida), cabia-lhe a atitude do verso.
A seu modo então, rabiscou o seguinte verso:
Haveria ainda tempo?
O que o pesadelo
tamborilou no ressonar do Deus,
não foi o bastante;
ele tinha a crença na luz,
que tudo cura.
Toda perplexidade
ficou esquecida
nas curvas dessas horas redondas.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Haveria ainda tempo?
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15 comentários:
Bom, direto a fonte...
não pelo rosário nem pela insensatez, tornei a desfiar a realidade. Talvez pelo meu suposto déficit do agora. Nada de pesadelo, só enlevo. Fantasiada de verso, ano novo, carnaval, só assim me restabeleço.
Haveria ainda tempo?
...
Oba, lançamento à vista!
Um abraço
Oi, Jorge!
Que profundo esse texto!, não deu pra absorver tudo que foi dito aqui creio que por falta de outras leituras. Mas gosto muito desses temas pertinentes a Deus, Homem, Niilismo...
diante desse pesadelo, a do soberano versus o homo sacer; diante desse desfecho, a da epifania da pa-lavra em relação à barriga vazia, talvez a validade do niilismo derive de sua potencialidade pra nos convocar a baixar a bola, a deixar de ser, a não insistir no ser, essa besta a que chamamos homem, e cuja metafísica é abstração - a que chamamos de cultura, de inteligência, de civilização - que vampiriza a vida nua, a que chamamos também de realidade; daí certa possibilidade pro niilismo: queira menos, seja menos, faça menos. por outro mesmo lado, o niilismo não pode ser a desistência ou a inatividade ou a comodidade em relação à ação da besta humana.
belo texto parceiro,
meu abraço,
luis
Jocely,
Obrigado por trazer beleza e leveza ao meu texto.
Olá mésmero,
Não importa que uma ou outra citação ainda não façam parte dos seus guardados - não importa...
Os temas sim devem ser pensados, repisados (no sentido de refletidos), ruminados até a exaustão.
Um abraço,
Bom Luis...
Concordo em sua observação sobre o niilismo.
Sobre o fazer poético diante dessa realidade eu deixo aqui um poema que já se encontra exposto no Blog.
Caramelos,
caramelos,
Seguem os poetas revirando
a relva carbonizada
a procura de caramelos.
Prezado JEN, vou fazer uma "parceria" com Nietzsche, adaptando uma de suas frases que me parece ser a síntese desse seu texto tão intenso e brilhante: "para sermos capazes de ver a insensatez das situações temos de ser visionários, impotentes. O que nos faz despertar é um afeto".
Abraços!
Sim, existem poetas com déficit de memória, principalmente quanto às lembrancas dos sofrimentos de outrora. Não fosse assim, não entrariam novamente no barco. A sorte (ou falta dela) é sempre haver tempo de esquecer...
Abraço, Jorge.
Vim lhe fazer uma visita e conhecer seu blog!!
Beijos
http://sex-appeal.zip.net
http://cara-nova.zip.net
Hanne,
A questão da memória do poeta é um tema recorrente em minhas reflexões.
Estou longe de ser um teórico; lido com minhas percepções, vivências e o pouco que li.
Sim, generalizei sobre o déficit de memória.
No meu caso particular talvez eu tenha momentos de ausência ou lapso de memória, como vc disse :" A sorte (ou falta dela) é sempre haver tempo de esquecer...."
O próprio texto diz isso quando do retorno a palavra.
Sou um defensor de algum grau de engajamento com a realidade (longe de não admirar os temas recorrentes da poesia).
Isso me lembra o livro NEVE, no qual o poeta Ka consegue sempre vislumbrar poesia desengajada, mesmo dentro de uma revolução política – sei lá -, eu tento não ser assim (foi esse livro que me fez escrever o poema sobre os caramelos que eu citei na resposta ao Pickwick).
Já uma das hipóteses de Rimbaud ter silenciado tão precocemente foi que, por coerência, ele considerava ter dito tudo e – palavras deles – ele passou a abominar os poetas.
Não sei se vc leu o poema que eu publiquei antes sobre a definição do poeta, talvez seja isso, somos seres contraditórios (somos humanos), somos em geral mais sensíveis (mas, felizmente, continuamos sendo contraditórios).
Somos “humanos - demasiadamente humanos”.
Vamos acabar, pois já estou escrevendo um ensaio ( recheado de abobrinha).
Um abraço,
PS: gostei muito de sua observação. O Miguel tem razão sobre vc.
Beleza de blog: meu caro companheiro da palavra poesia / déficit é o que seria dela / sem o p(r)o(f)eta Jorge Elias...
Caro Mr. Pickwick,
Pelo visto és também amante dos textos de Nietzche.
Fiquei feliz com as trocas que esse texto motivou.
Sim necessitamos do afeto...
Sigamos em nosso eterno despertar.
atirandoletras.
Obrigado pela visita.
Quanto ao p(r)o(f)eta, gostei da brincadeira.
"Humanos, demasiadamente humanos"
É disso que se alimenta a minha relação de amor e ódio comigo mesma!
Abraço.
dando uma passada por aqui jorge...
garantia sempre de belos textos!
Abraçao,
Gabriel
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